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sábado, 26 de outubro de 2024

QUESTÕES DE LITERATURA NO ENEM - EDIÇÃO 2016 - PROVA DE LINGUAGENS



LITERATURA NO ENEM - EDIÇÃO 2016

QUESTÃO 01: ENEM (2016)

A partida do trem

Marcava seis horas da manhã, Angela Pralini pagou o táxi e pegou sua pequena valise, Dona Maria Rita de Alvarenga Chagas Souza Melo desceu do Opala da filha e encaminharam-se para os trilhos. A velha bem vestida e com joias. Das rugas que a disfarçavam saía a forma pura de um nariz perdido na idade, e de uma boca que outrora devia ter sido cheia e sensível. Mas que importa? Chega-se a um certo ponto — e o que foi não importa. Começa uma nova raça. Uma velha não pode comunicar-se. Recebeu o beijo gelado de sua filha que foi embora antes do trem partir. Ajudara-a antes a subir no vagão. Sem que neste houvesse um centro, ela se colocara do lado. Quando a locomotiva se pôs em movimento, surpreendeu-se um pouco: não esperava que o trem seguisse nessa direção e sentara-se de costas para o caminho.
Angela Pralini percebeu-lhe o movimento e perguntou:
— A senhora deseja trocar de lugar comigo?
Dona Maria Rita se espantou com a delicadeza, disse que não, obrigada, para ela dava no mesmo, Mas parecia ter-se perturbado. Passou a mão sobre o camafeu filigranado de ouro espetado no peito, passou a mão pelo broche. Seca.  Ofendida? Perguntou afinal a Angela Pralini:
— É por causa de mim que a senhorita deseja trocar de lugar?

LISPECTOR, C. Onde estiveste de noite. Rio de Janeiro. Nova Fronteira.

A descoberta de experiências emocionais com base no Cotidiano é recorrente na obra de Clarice Lispector. No fragmento, o narrador enfatiza o(a)

(A) comportamento vaidoso de mulheres de condição social privilegiada.
(B) anulação das diferenças sociais no espaço público de uma estação.
(C) incompatibilidade psicológica entre mulheres de gerações diferentes.
(D) constrangimento da aproximação formal de pessoas desconhecidas.
(E) sentimento de solidão alimentado pelo processo de envelhecimento.

QUESTÃO 02: ENEM (2016)

Esses chopes dourados

[…]
quando a geração de meu pai
batia na minha
a minha achava que era normal
que a geração de cima
só podia educar a de baixo
batendo

quando a minha geração batia na de vocês
ainda não sabia que estava errado
mas a geração de vocês já sabia
e cresceu odiando a geração de cima

aí chegou esta hora
em que todas as gerações já sabem de tudo
e é péssimo
ter pertencido à geração do meio
tendo errado quando apanhou da de cima
e errado quando bateu na de baixo

e sabendo que apesar de amaldiçoados
éramos todos inocentes.

WANDERLEY, J. In: MORICONI, II (Org.). Os cem melhores poemas brasileiros do século, Rio de Janeiro: Objetiva, 2001 (fragmento)

Ao expressar uma percepção de atitudes e valores situados na passagem do tempo, o eu lírico manifesta uma angústia sintetizada na

(A) compreensão da efemeridade das convicções antes vistas como sólidas.
(B) consciência das imperfeições aceitas na construção do senso comum.
(C) revolta das novas gerações contra modelos tradicionais de educação.
(D) incerteza da expectativa de mudança por parte das futuras gerações.
(E) crueldade atribuída à forma de punição praticada pelos mais velhos.

QUESTÃO 03: ENEM (2016)

Antiode

Poesia, não será esse
o sentido em que
ainda te escrevo:
flor! (Te escrevo:
flor! Não uma
flor, nem aquela
flor-Virtude – em disfarçados urinóis).
Flor é a palavra
flor; verso inscrito
no verso, como as
manhãs no tempo.
Flor é o salto
da ave para o voo:
o saltofora do sono
quando seu tecido
se rompe; é uma explosão
posta a funcionar,
como uma máquina,
uma jarra de flores.

MELO NETO, J. C. Psicologia da composição Rio de Janeiro Nova Fronteira, 1997 (fragmento)

A poesia é marcada pela recriação do objeto por meio da linguagem, sem necessariamente explicá-lo. Nesse fragmento de João Cabral de Melo Neto, poeta da geração de 1945, o sujeito lírico propõe a recriação poética de

(A) uma palavra, a partir de imagens com as quais ela pode ser comparada, a fim de assumir novos significados.
(B) um urinol, em referência às artes visuais ligadas às vanguardas do início do século XX.
(C) uma ave, que compõe, com seus movimentos, uma imagem historicamente ligada à palavra poética.
(D) uma máquina, levando em consideração a relevância do discurso técnico-científico pós-Revolução Industrial.
(E) um tecido, visto que sua composição depende de elementos intrínsecos ao eu lírico.

QUESTÃO 04: ENEM (2016)

De domingo

– Outrossim…
– O quê?
– O que o quê?
– O que você disse.
– Outrossim?
– É.
– O que é que tem?
– Nada. Só achei engraçado.
– Não vejo a graça.
– Você vai concordar que não é uma palavra de todos os dias.
– Ah, não é. Aliás, eu só uso domingo.
– Se bem que parece mais uma palavra de segunda-feira.
– Não. Palavra de segunda-feira é “óbice”.
– “Ônus”.
– “Ônus” também. “Desiderato”. “Resquício”.
– “Resquício” é de domingo.
– Não, não. Segunda. No máximo terça.
– Mas “outrossim”, francamente…
– Qual o problema?
– Retira o “outrossim”.
– Não retiro. É uma ótima palavra. Aliás é uma palavra difícil de usar. Não é qualquer um
que usa “outrossim”.

VERISSIMO, L. F. Comédias da vida privada. Porto Alegre: L&PM, 1996 (fragmento).

No texto, há uma discussão sobre o uso de algumas palavras da língua portuguesa. Esse uso promove o(a)

(A) marcação temporal, evidenciada pela presença de palavras indicativas dos dias da semana.
(B) tom humorístico, ocasionado pela ocorrência de palavras empregadas em contextos formais.
(C) caracterização da identidade linguística dos interlocutores, percebida pela recorrência de palavras regionais.
(D) distanciamento entre os interlocutores, provocado pelo emprego de palavras com significados pouco conhecidos.
(E) inadequação vocabular, demonstrada pela seleção de palavras desconhecidas por parte de um dos interlocutores do diálogo.













GABARITO
01: E
02: B
03: A
04: B

sábado, 19 de outubro de 2024

LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTO - GÊNERO CRÔNICA

 
GÊNERO CRÔNICA

Trágico acidente de leitura

Tão comodamente que eu estava lendo, como quem viaja num raio de lua, num tapete mágico, num trenó, num sonho. Nem lia: deslizava. Quando de súbito a terrível palavra apareceu, apareceu e ficou, plantada ali diante de mim, focando-me: ABSCÔNDITO. Que momento passei!... O momento de imobilidade e apreensão de quando o fotógrafo se posta atrás da máquina, envolvidos os dois no mesmo pano preto, como um duplo monstro misterioso e corcunda... O terrível silêncio do condenado ante o pelotão de fuzilamento, quando os soldados dormem na pontaria e o capitão vai gritar: Fogo!

Mário Quintana. Nova antologia poética. 5. ed. São Paulo: Globo, 1995.

1. O que o texto considerou um acidente de leitura?

2. Releia o trecho a seguir.

"Tão comodamente que eu estava lendo, como quem viaja num raio de lua, num tapete mágico, num trenó, num sonho. Nem lia: deslizava. "

a) O que o narrador quis dizer nesse trecho?

b) As palavras foram empregadas no sentido literal ou figurado? Justifique sua resposta.

c) Podemos afirmar que o ato de ler dá prazer ao narrador? Como você chegou a essa conclusão?

3. No texto, o que está sendo comparado ao ato de ser fotografado?

4. Quem fala no texto relata o aparecimento da palavra abscôndito no meio de sua leitura. Para você ela é desconhecida? Em caso afirmativo, procure o significado da palavra no dicionário.

5. Por que a palavra abscôndito aparece em letra maiúscula no texto?

6. Localize no texto o emprego de reticências e explique que efeito de sentido elas criam no texto.








GABARITO

1. O fato de alguém ter encontrado uma palavra desconhecida no meio do livro que ele estava lendo.

2. a) Resposta possível: que quis dizer que estava envolvido na leitura, distante da realidade.
b) Em sentido figurado: um exemplo é o emprego da expressão "Nem lia: deslizava", que dá a ideia da suavidade e desenvoltura com que vivia aquele momento.
c) Sim, ele declara que lê comodamente como quem viaja, quem vive um sonho.

3. O fato de um leitor (no caso, o próprio narardor) se ver diante de uma palavra desconhecida e parar estático diante dela, como se fosse ser fotografado por alguém.

4. Resposta pessoal. Abscôndito: invisível, escondido, secreto.

5. Porque, escrita dessa maneira, ela se destaca, salta aos olhos do leitor, assim como aos olhos de quem escreve a crônica.

6. Resposta possível: elas servem para marcar a pausa e indicar a perplexidade do leitor diante da palavra nova. Elas também são usadas para indicar a suspensão da narração, permitindo ao leitor imaginar os sentimentos do narrado.


Fonte: OLIVEIRA, T. et al. Língua Portuguesa: tecendo linguagens.  3. ed. São Paulo: IBEP, 2012.



sábado, 5 de outubro de 2024

LEITURA E ANÁLISE DA GRAMÁTICA APLICADA AO TEXTO - GÊNERO POEMA - FOCO NA AÇÃO VERBAL



GÊNERO POEMA

Mascarados

Saiu o Semeador a semear
Semeou o dia todo
e a noite o apanhou ainda
com as mãos cheias de sementes.

Ele semeava tranquilo
sem pensar na colheita
porque muito tinha colhido
do que outros semearam.

Jovem, seja você esse semeador
Semeia com otimismo
Semeia com idealismo
as sementes vivas
da Paz e da Justiça.

Cora Coralina. Folha de S. Paulo, 4 jun. 2001.






1. O poema de Cora Coralina apresenta uma ação que aparece em todo o texto. Que ação é essa?

2. O poema foi dividido em três estrofes. Organize as palavras ou expressões a seguir de forma que corresponda a cada uma dessas estrofes.

ação - obra inacabada - esperança - trabalho

senso de coletividade -  perseverança


1ª estrofe

2ª estrofe

3ª estrofe
















3. Que outras palavras ou expressões poderiam representar o que os versos dizem?

4. Releia estes versos.

[...] e a noite o apanhou ainda
com as mãos cheias de sementes.

Entendidos em sentido literal, os versos querem dizer que o semeador ainda não tinha terminado o seu trabalho quando a noite chegou. É possível ampliar o significado da ação de semear, ou seja, é possível semear outras coisas além de sementes? Explique sua resposta.

5. E você, acha importante semear, mesmo sem a certeza de colher os frutos de suas próprias sementes? Comente sua resposta.

6. Copie do poema de Cora Coralina, todos os verbos de ação.

7. Transcreva os verbos que estão no passado.

8. Quais desses verbos no passado indicam ações que já terminaram, que já estão acabadas?

9. Leia o verso.

"Saiu o semeador a semear."

a) A expressão em destaque indica que a ação já foi terminada ou ainda não acabou?

b) Que palavra a seguir pode substituir a expressão em destaque no verso? Semeado, semeando ou semeou?

10. Releia agora os próximos trechos.

Trecho 1

Jovem, seja você esse semeador
Semeia com otimismo
Semeia com idealismo
as sementes vivas
da Paz e da Justiça.

Trecho 2

Todos os dias Maria semeia na horta.

Considerando os verbos destacados, assinale com V as alternativas verdadeiras e com F as falsas.

(    ) Nos dois exemplos, os verbos indicam que a ação está no passado.
(    ) Nos dois exemplos, as ações estão no presente. Elas indicam que os jovens já semearam muito e Maria também.
(    ) O verbo semeia, no exemplo 1, indica um conselho. Já no exemplo 2 indica que Maria tem o hábito de semear a horta.
(    ) Nos dois exemplos, os verbos indicam que o ato de semear acontece todos os dias.

11. Observe o emprego dos verbos para compreender melhor como a autora construiu o sentido do texto. Agora, copie os versos do poema que representem as ações pedidas a seguir.

a) Versos que revelam ações importantes do semeador e de outras pessoas.

b) Versos em que o semeador é perseverante, que continua a semear.

c) Versos em que o eu poético dá um conselho, que só se realizará se o outro fizer aquilo que ele solicita.













GABARITO

1. A ação de semear.
2. 1ª estrofe: trabalho, obra inacabada; 2ª estrofe: senso de coletividade, perseverança; 3ª estrofe: ação, esperança.
3. Resposta pessoal.
4. Sim, a expressão semear pode estar relacionada a anunciar uma mensagem, desenvolver um trabalho, construir um mundo melhor, entre outras possibilidades.
5. Resposta pessoal (considerar uma resposta que favoreça uma discussão a respeito do sentido de coletividade).
6. saiu, semear, semeou, apanhou, semeava, pensar, tinha colhido, semearam, semeia.
7. Saiu, semeou, apanhou, semeava, tinha, semearam.
8. Saiu, semeou, apanhou, semearam.
9. a) Indica que a ação ainda não acabou.
b) Semeando.
10. F, F, V, V.
11. a) Saiu o semeador a semear; Semeou o dia todo; porque muito tinha colhido; do que os outros semearam.
b) Saiu o semeador a semear; Ele semeava tranquilo.
c) Semeia com otimismo; Semeia com idealismo.



FONTE: Todos os créditos reservados aos autores: OLIVEIRA, Tania Amaral; SILVA, Elizabeth Gavioli de Oliveira; OLIVEIRA SILVA, Cícero de; ARAÚJO, Lucy Aparecida Melo. Tecendo linguagens: língua portuguesa. 3. ed. São Paulo: IBEP, 2012. (Adaptado)