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quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

PRÉ-MODERNISMO - TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA ATIVIDADES COM GABARITO

PRÉ-MODERNISMO - TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA


O romance conta a história de um nacionalista ingênuo, Policarpo Quaresma, que acredita num Brasil forte, rico e soberano, e quer salvá-lo dos políticos corruptos. Entretanto, esse exaltado patriotismo só provoca risos e acaba por custar-lhe o internamento num hospício. Tendo apoiado o marechal Floriano, volta-se contra o seu governo por considera-lo incompetente e desumano. Ao presenciar a escolha de antiflorianistas para fuzilamento, escreve, indignado, uma carta ao presidente. No dia seguinte, é preso e fuzilado



Por que estava preso? Ao certo não sabia; o oficial que o conduzira, nada lhe quisera dizer; e, desde que saíra da ilha das Enxadas para a das Cobras, não trocara palavra com ninguém, não vira nenhum conhecido no caminho, nem o próprio Ricardo que lhe podia, com um olhar, com um gesto, trazer sossego às suas dúvidas. Entretanto, ele atribuía a prisão à carta que escrevera ao presidente, protestando contra a cena que presenciara na véspera. 


Não se pudera conter. Aquela leva de desgraçados a sair assim, a desoras, escolhidos a esmo, para uma carniçaria distante, falara fundo a todos os seus sentimentos; pusera diante dos seus olhos todos os seus princípios morais; desafiara a sua coragem moral e a sua solidariedade humana; e ele escrevera a carta com veemência, com paixão, indignado. Nada omitiu do seu pensamento; falou claro, franca e nitidamente. 


Devia ser por isso que ele estava ali naquela masmorra, engaiolado, trancafiado, isolado dos seus semelhantes como uma fera, como um criminoso, sepultado na treva, sofrendo umidade, misturado com os seus detritos, quase sem comer... Como acabarei? Como acabarei? E a pergunta lhe vinha, no meio da revoada de pensamentos que aquela angústia provocava pensar. Não havia base para qualquer hipótese. Era de conduta tão irregular e incerta o Governo que tudo ele podia esperar: a liberdade ou a morte, mais esta que aquela. 


O tempo estava de morte, de carnificina; todos tinham sede de matar, para afirmar mais a vitória e senti-la bem na consciência coisa sua, própria, e altamente honrosa. 


Iria morrer, quem sabe se naquela noite mesmo? E que tinha ele feito de sua vida? Nada. Levara toda ela atrás da miragem de estudar a pátria, por amá-la e querê-la muito, no intuito de contribuir para a sua felicidade e prosperidade. Gastara a sua mocidade nisso, a sua virilidade também; e, agora que estava na velhice, como ela o recompensava, como ela o premiava, como ela o condecorava? Matando-o. E o que não deixara de ver, de gozar, de fruir, na sua vida? Tudo. Não brincara, não pandegara, não amara — todo esse lado da existência que parece fugir um pouco à sua tristeza necessária, ele não vira, ele não provara, ele não experimentara. 


Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades. Que lhe importavam os rios? Eram grandes? Pois que fossem... Em que lhe contribuiria para a felicidade saber o nome dos heróis do Brasil? Em nada... O importante é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não. Lembrou-se das suas coisas de tupi, do folclore, das suas tentativas agrícolas... Restava disso tudo em sua alma uma satisfação? Nenhuma! Nenhuma! 


O tupi encontrou a incredulidade geral, o riso, a mofa, o escárnio; e levou-o à loucura. Uma decepção. E a agricultura? Nada. As terras não eram ferazes e ela não era fácil como diziam os livros. Outra decepção. E, quando o seu patriotismo se fizera combatente, o que achara? Decepções. Onde estava a doçura de nossa gente? Pois ele não a viu combater como feras? Pois não a via matar prisioneiros, inúmeros? Outra decepção. A sua vida era uma decepção, uma série, melhor, um encadeamento de decepções. 


A pátria que quisera ter era um mito; era um fantasma criado por ele no silêncio do seu gabinete. Nem a física, nem a moral, nem a intelectual, nem a política que julgava existir, havia, A que existia de fato, era a do Tenente Antonino, a do doutor Campos, a do homem do Itamarati. 


E, bem pensado, mesmo na sua pureza, o que vinha a ser a Pátria? Não teria levado toda a sua vida norteado por uma ilusão, por uma idéia a menos, sem base, sem apoio, por um Deus ou uma Deusa cujo império se esvaía? 


LIMA BARRETO. Triste fim de Policarpo Quaresma. 17. ed. São Paulo: Brasiliense, 1976. p. 205-207


Vocabulário 

Desoras: fora de hora 

Esvair: dissipar, desaparecer 

Feraz: fértil 

Nortear: orientar, guiar


RESPONDA COM BASE NO TEXTO 


1. O que levou o Major Quaresma a escrever uma carta ao presidente? 


2. Que elementos do segundo parágrafo caracterizam a personalidade de Quaresma? 


3. Como o Major Quaresma caracteriza o governo do Marechal Floriano? 


4. De que maneira era glorificada e afirmada a vitória sobre os revoltosos? 


5. Justifique com elementos do texto a afirmação de que o Major Quaresma tinha um forte sentimento nacionalista. 


6. Segundo Pero Vaz de Caminha, “(A terra) em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo...”. Que comentário faz Quaresma a esse respeito? 


7. É comum a crença de que o povo brasileiro possui um espírito pacífico, generoso e cordial. O que pensa Policarpo Quaresma a respeito disso? 


8. Que ilusão teria guiado Quaresma até o fim da sua vida? 




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GABARITO


1. Policarpo Quaresma escreveu a carta ao presidente por se sentir indignado com as injustiças (brutalidade, violência, carnificina) praticadas contra os prisioneiros. 

2. Era um homem com princípios morais, solidário, humano... 

3. Um governo ditador, violento, corrupto, sanguinário, desumano... 

4. Por meio da prisão, castigo e fuzilamento daqueles que se revoltavam contra o governo. 

5. “Levara toda ela ( a vida) atrás da miragem de estudar a pátria, por amá-la e querê-la muito, no intuito de contribuir para a sua felicidade e prosperidade.” 

6. “E a agricultura? Nada. As terras não eram ferazes e ela não era fácil como diziam os livros. Outra decepção.” 

7. Ele não achara a doçura (generosidade, cordialidade) no povo brasileiro. 

8. A ilusão de uma pátria ordeira e generosa, sem problemas, sem corrupção, políticos com moralidade...