ARTIGO DE OPINIÃO: VOVÓ NA JANELA
A VOVÓ NA JANELA
Cada sociedade tem a educação que quer: a nossa é péssima, antes de tudo porque aceitamos passivamente que assim seja, além de não fazermos a nossa parte em casa como pais.
Em uma pesquisa internacional sobre aprendizado de leitura, os resultados da Coreia pareciam errados, pois eram excessivamente elevados.
Despachou-se um emissário para visitar o país e checar a aplicação. Era isso mesmo. Mas, visitando uma escola, ele viu várias mulheres do lado de fora das janelas, espiando para dentro das salas de aula. Eram as avós dos alunos, vigiando os netos, para ver se estavam prestando atenção nas aulas.
A obsessão nacional que leva as avós às janelas é a principal razão para os bons resultados da educação em países com etnias chinesas importantes. A qualidade do ensino é um fator de êxito, mas, antes de tudo, é uma consequência da importância fatal atribuída à educação pelos orientais.
Foi feito um estudo sobre níveis de estresse de alunos, comparando americanos com japoneses. Verificou-se que os americanos com notas muito altas eram mais tensos, pois não são bem vistos pelos colegas de escolas públicas. Já os estressados no Japão eram os estudantes com notas baixas, pela condenação dos pais e da sociedade.
Pesquisadores americanos foram observar o funcionamento das casas de imigrantes orientais. Verificou-se que os pais, ao voltar para casa, passam a comandar as operações escolares. A mesa da sala transforma-se em uma área de estudo, onde todos se sentam, sob seu controle estrito. Os que sabem inglês tentam ajudar os filhos. Os outros – e os analfabetos – apenas vigiam. Os pais não se permitem o luxo de outras atividades e abrem mão da televisão. No Japão, é comum as mães estudarem as matérias dos filhos, para que possam ajudá-lo em suas tarefas de casa.
Fala-se do milagre educacional coreano. Mas fala-se pouco do esforço das famílias. Lá, como no Japão, os cursinhos preparatórios começam quase tão cedo quanto a escola. Os alunos mal saem da aula e têm de mergulhar no cursinho. O que gastam as famílias pagando professores particulares e cursinhos é o mesmo que gasta o governo para operar todo o sistema escolar público.
Os exemplos acima lançam algumas luzes sobre o sucesso dos países do Leste Asiático em matéria de educação. Mostram que tudo começa com o desvelo das famílias e com sua crença inabalável de que a educação é o segredo do sucesso. Países como Coreia, Cingapura e Taiwan não gastam muito mais do que nós em educação. A diferença é o empenho da família, que turbina o esforço dos filhos e força o governo a fazer sua parte.
Curioso notar que os nipo-brasileiros são 0,5% da população de São Paulo. Mas ocupam 15% das vagas da USP. Não obstante, seus antepassados vieram para o Brasil com níveis baixíssimos de educação.
Muitos pais brasileiros de classe média achincalham a nossa educação. Mas seu esforço e sacrifício pessoal tendem a ser ínfimos. Quando deixam de assistir à televisão para assegurar-se de que seus pimpolhos estão estudando? Quantos conversam frequentemente com os filhos? As pesquisas mostram que tais gestos têm um impacto enorme sobre o desempenho dos filhos. Se a família é a primeira linha de educação e apoio à escola, que lições estão os mais educados dando às famílias mais pobres?
O Ministério da Saúde da União Soviética reclamava contra o Ministério da Educação, pois julgava que o excesso de horas de estudo depois da escola e nos fins de semana estava comprometendo a saúde da juventude. Exatamente a mesma queixa foi feita na Suíça.
No Brasil, uma pesquisa recente, em escolas particulares de bom nível, mostrou que os alunos do último ano do Ensino Médio indicaram dedicar uma hora por dia aos estudos – além das aulas. Outra pesquisa indicou que os jovens assistem diariamente a quatro horas de televisão. Esses são os alunos que dizem estar se preparando para vestibulares impossíveis.
Cada sociedade tem a educação que quer. A nossa é péssima, antes de tudo porque aceitamos passivamente que assim seja, além de não fazermos a nossa parte em casa. Não podemos culpar as famílias pobres, mas e a indiferença da classe média? Está em boa hora para um exame de consciência. Estado, escola e professores têm sua dose de culpa. Mas não são os únicos merecendo puxões de orelha.
REFERÊNCIA: CASTRO, Cláudio de Moura. A vovó na janela. In: KÖCHE, V.S; BOFF, O.M.B; MARINELLO, A.F. Leitura e produção textual: gêneros textuais do argumentar e expor. Petropolis, RJ: Vozes, 2010.
ATIVIDADES
1. Segundo o autor, a principal razão para o sucesso da educação em países do leste asiático reside em:
a) O investimento maciço do governo em escolas de alta qualidade.
b) A grande quantidade de cursinhos preparatórios disponíveis para os alunos.
c) A obsessão nacional pela educação e o acompanhamento familiar constante.
d) A qualidade superior dos professores e dos materiais didáticos utilizados.
b) A grande quantidade de cursinhos preparatórios disponíveis para os alunos.
c) A obsessão nacional pela educação e o acompanhamento familiar constante.
d) A qualidade superior dos professores e dos materiais didáticos utilizados.
2. O autor utiliza a comparação entre estudantes americanos e japoneses para ilustrar:
a) A importância da saúde mental dos estudantes de alto rendimento.
b) As diferentes formas como a pressão social e familiar afetam o desempenho escolar.
c) A superioridade do sistema educacional japonês em relação ao americano.
d) A necessidade de reduzir a carga horária de estudos para evitar o estresse.
b) As diferentes formas como a pressão social e familiar afetam o desempenho escolar.
c) A superioridade do sistema educacional japonês em relação ao americano.
d) A necessidade de reduzir a carga horária de estudos para evitar o estresse.
3. De acordo com o texto, a atitude de muitos pais brasileiros de classe média em relação à educação se caracteriza por:
a) Um grande investimento financeiro em aulas particulares e cursinhos.
b) Uma participação ativa e constante no acompanhamento dos estudos dos filhos.
c) Uma crítica severa ao sistema educacional, mas pouco esforço pessoal dedicado.
d) Uma total confiança na qualidade das escolas particulares e no desempenho dos filhos.
b) Uma participação ativa e constante no acompanhamento dos estudos dos filhos.
c) Uma crítica severa ao sistema educacional, mas pouco esforço pessoal dedicado.
d) Uma total confiança na qualidade das escolas particulares e no desempenho dos filhos.
4. A reclamação do Ministério da Saúde da União Soviética e a queixa feita na Suíça em relação ao excesso de horas de estudo visam alertar para:
a) A ineficiência dos métodos de ensino tradicionais.
b) O impacto negativo da sobrecarga de estudos na saúde dos jovens.
c) A necessidade de reformular os currículos escolares.
d) A importância de equilibrar o tempo de estudo com atividades de lazer.
b) O impacto negativo da sobrecarga de estudos na saúde dos jovens.
c) A necessidade de reformular os currículos escolares.
d) A importância de equilibrar o tempo de estudo com atividades de lazer.
5. A conclusão do autor sobre a qualidade da educação brasileira aponta como causa principal:
a) A falta de recursos financeiros investidos pelo governo nas escolas públicas.
b) A má formação dos professores e a deficiência dos materiais didáticos.
c) A aceitação passiva da situação pela sociedade e a falta de envolvimento familiar.
d) A influência negativa da televisão e de outras atividades de lazer no tempo de estudo dos jovens.
b) A má formação dos professores e a deficiência dos materiais didáticos.
c) A aceitação passiva da situação pela sociedade e a falta de envolvimento familiar.
d) A influência negativa da televisão e de outras atividades de lazer no tempo de estudo dos jovens.
GABARITO
1: C
2: B
3: C
4: B
5: C
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