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sábado, 8 de março de 2025

ALUÍSIO AZEVEDO (1857-1913) ATIVIDADES DE LITERATURA PARA O ENSINO MÉDIO COM GABARITO

 



Aluísio Tancredo Gonçalves Azevedo nasceu em São Luís, capital do Maranhão, em 1857. O berço do autor já foi um escândalo na então provinciana capital maranhense: a mãe abandonara o marido e passara a viver com o vice-cônsul português na cidade, um jovem viúvo. Dessa "união ilegítima" nasceram primeiro Artur Azevedo - que iria tornar-se escritor de peças de teatro - e depois Aluísio Tancredo, excelente caricaturista, desenhista e, mais tarde, o inaugurador de nosso Naturalismo.

A habilidade de caricaturista deu origem a um método original de trabalho: segundo depoimento de um amigo da época, o escritor primeiro desenhava suas personagens, pintava-as e recortava-as sobre papelão para depois escrever as cenas de seus romances. Nada mais condizente com um escritor naturalista!

Morou um tempo no Rio de Janeiro e regressou a São Luís quando o pai morreu. Antes de estrear no Naturalismo, escreveu um romance romântico de descutível qualidade: Uma lágrima de mulher. Ajudou então a lançar o jornal O pensador, que fazia ferrenha oposição ao clero. Aluísio, não bastasse ter nascido de pais descasados, agora tornava-se o "satanás da cidade". Isso seria pouco diante do escândalo provocado com o lançamento de O mulato, em que muitas pessoas da sociedade maranhense se viram refletidas.

Livro lançado, escândalo armado. O redator do jornal A civilização aconselhou ao romancista: "À lavoura, meu estúpido! "À lavoura! Precisamos de braços e não de prosas em romances!"

Nada estúpido, sentindo que sua situação na cidade tendia a se complicar, com o sucesso obtido pelo livro na capital federal, o escritor colocou fama e dinheiro na bagagem e voltou ao Rio.

Decidido a ganhar a vida como romancista, tinha de publicar sempre. Daí o desnível qualitativo de sua obra: romances dentro da mais pura convenção romântica intercalavam-se com obras naturalistas.

A estabilidade financeira que o escritor procurava não veio através da literatura. Em 1895 conseguiria ingressar na carreira diplomática: espanha, Japão e Argentina. Depois de outras andanças sul-americanas e europeias, voltou a fixar-se em Buenos Aires, junto com a companheira, Pastora, e os dois filhos do primeiro matrimônio dela. Desde o ingresso na carreira diplomática, até morrer, em janeiro de 1913, Aluísio Azevedo nunca mais escreveu ficção.

A tentativa de fixar a realidade de modo objetivo, quase científico, é a principal característica da literatura naturalista. No Brasil, essa tendência inaugurou-se com O mulato, obra de Aluísio Azevedo.


OBRA

Romances românticos: Uma lágrima de mulher (1879); Memórias de um condenado (ou A condessa Véper) (1882); Mistério da Tijuca (ou Girândola de amores) (1882); Filomena Borges (1884); A mortalha de Alzira (1894).

Romances naturalistas: O mulato (1881); Casa de pensão (1884); O homem (1887); O cortiço (1890); O coruja (1890).

Escreveu ainda contos e crônicas.

Aluísio Azevedo pretendeu interpretar a realidade de uma camada social marginalizada, em franco processo de degradação, quer pela força da pressão social, quer pelo determinismo - teoria que o autor considera válida.

A cronologia da produção literária do escritor chama a atenção pelo fato de as obras naturalistas e as românticas serem, muitas vezes, simultâneas. O desnível de qualidade de seus romances certamente decorria da necessidade de escrever seguidamente, fazendo concessões ao público.

Segundo a crítica, o defeito de sua obra naturalista reside no fato de as personagens se reduzirem a meros tipos, esquemas sem vida interior. Sua grande virtude está, segundo a mesma crítica, no poder de retrar agrupamentos humanos.

FONTE:
Foto: https://pt.wikipedia.org/wiki/Alu%C3%ADsio_Azevedo
FARACO, Carlos Emílio; MOURA, Francisco Marto. Língua e Literatura.16 ed. São Paulo: Ática, 1996.



ATIVIDADES

01: A vida pessoal de Aluísio Azevedo foi marcada por diversos conflitos e escândalos. De que forma esses acontecimentos pessoais influenciaram sua obra literária? Comente:

02: Compare e contraste as obras naturalistas de Aluísio Azevedo com seus romances românticos. Quais são as principais diferenças entre esses dois estilos?

03: A carreira diplomática de Aluísio Azevedo interrompeu sua produção literária. Quais foram as possíveis razões para essa interrupção? Discuta o impacto dessa decisão na literatura brasileira.







GABARITO

01: Espera-se que o aluno responda que a vida turbulenta de Aluísio Azevedo, marcada por uma origem familiar polêmica e por confrontos com a sociedade maranhense, exerceu uma profunda influência em sua produção literária. O autor frequentemente utilizava suas próprias experiências e as de seus familiares como matéria-prima para seus romances, conferindo a eles um caráter autobiográfico e uma crueza realista. Em obras como "O Mulato", por exemplo, a temática do preconceito racial e da exclusão social, presente na própria vida do autor, é explorada de forma contundente. Além disso, a oposição à Igreja e à moral tradicional, que marcou sua trajetória, encontra eco em seus romances naturalistas, nos quais a hipocrisia e a vulgaridade da sociedade são denunciadas sem pudores.

02: Espera-se que o aluno responda que a obra de Aluísio Azevedo apresenta uma grande oscilação entre o Romantismo e o Naturalismo. Enquanto os romances românticos se caracterizam pelo idealismo, pela valorização dos sentimentos e pela busca por um herói idealizado, os romances naturalistas apresentam uma visão mais realista e objetiva da realidade, com personagens complexos e ambíguos, e uma linguagem mais crua e direta. No Romantismo, o autor buscava a beleza e a perfeição, enquanto no Naturalismo, ele se volta para a realidade cotidiana, com suas mazelas e contradições.

03: Espera-se que o aluno respa que a decisão de Aluísio Azevedo de ingressar na carreira diplomática pode ser explicada por diversos fatores, como a busca por estabilidade financeira e a necessidade de se afastar dos conflitos e escândalos que marcavam sua vida no Brasil. Essa interrupção da produção literária representou uma grande perda para a literatura brasileira, uma vez que Azevedo era um dos principais nomes do Naturalismo no país. Sua ausência deixou um vácuo que foi difícil de ser preenchido por outros escritores.












sábado, 1 de março de 2025

RAUL POMPEIA (1863-1895) ATIVIDADES DE LITERATURA PARA O ENSINO MÉDIO COM GABARITO



Raul D'Ávila Pompeia nasceu em Angra dos Reis em 1863. Frequentou um colégio interno; formou-se em direito em São Paulo. Voltando ao Rio, dedicou-se ao jornalismo. Foi também diretor da Biblioteca Nacional. De temperamento ultrassensível, passou uma vida bastante isolada. Suicidou-se na noite do Natal de 1895.

OBRA

Prosa: O Ateneu (1888) - romance; Canções sem metro (1900) - crônicas, poemas em prosa, divagações poéticas.

O romance de Raul Pompeia não se enquadra numa classificação exata. Apoiando-se na memória subjetiva de um narrador - Sérgio - e não na realidade objetiva dos fatos, a reconstituição da vivência da personagem central no colégio Ateneu adquire um caráter acentuadamente psicológico. Isso afasta a obra do padrão realista/naturalista.

É verdade que em determinados momentos o romance tende ao Naturalismo, como na descrição da personagem Ângela:

"Ângela tinha cerca de vinte anos; parecia mais velha pelo desenvolvimento das proporções. Grande, carnuda, sanguínea e fogosa, era um desses exemplares excessivos do sexo que parecem conformados expressadamente para esposas da multidão..."

Mas não é esse o tom geral do romance. Fugindo à exatidão descritiva e à frieza da narração realista/naturalista, o estilo de Raul Pompeia acrescenta uma nova técnica ao nosso Realismo: a técnica impressionista.

O termo surgiu nas artes plásticas e designa a maneira de pintar em que o artista registra não a realidade, mas a impressão que esta realidade desperta nele.

Na literatura, são características do impressionismo:

  • o escrito não pretende “fotografar” a realidade, mas registrar a impressão que coisas e fatos provocam no espírito e na lembrança da personagem;

  • o registro das emoções e impressões importa mais que a ação;

  • as personagens quase nunca falam ou agem diretamente. Tudo chega ao leitor através da memória do narrador;

  • esse narrador é onisciente e conhece o avesso, o interior das personagens;

  • a narrativa, por ser subjetiva e submetida ao fluxo da memória, geralmente não apresenta ordem cronológica;

  • os pormenores importam mais que a descrição do todo.



FONTE:
Foto: https://pt.wikipedia.org/wiki/Raul_Pompeia
FARACO, Carlos Emílio; MOURA, Francisco Marto. Língua e Literatura.16 ed. São Paulo: Ática, 1996.

ATIVIDADES

01: Analise o impacto do contexto social da época na obra de Raul Pompeia, especialmente em "O Ateneu". Como as experiências pessoais do autor podem ter influenciado sua escrita?

02: Discuta a técnica impressionista utilizada por Raul Pompeia em sua obra. Como essa técnica se difere do realismo/naturalismo típico da época?

03: Em "O Ateneu", o personagem Sérgio serve como narrador. Qual é a importância dessa escolha narrativa para a construção da obra?

04: Considerando a descrição da personagem Ângela, como Raul Pompeia incorpora elementos naturalistas, mesmo misturando com seu estilo impressionista?

05: Como o uso da memória e a estrutura não linear da narrativa influenciam a trama de "O Ateneu" e a compreensão do leitor sobre os eventos narrados?









GABARITO

01: Espera-se que o aluno responda que o contexto social do final do século XIX no Brasil era marcado por mudanças políticas, sociais e culturais. Raul Pompeia, vivendo uma vida isolada e de temperamento sensível, pode ter se sentido à margem dessas transformações, o que refletiu em sua escrita. As experiências pessoais, como sua formação em um colégio interno e a experiência de sua própria condição emocional, influenciaram a construção da narrativa de "O Ateneu", onde o foco é a subjetividade e o psicológico das personagens, distantes das descrições objetivas do realismo.

02: Espera-se que o aluno responda que a técnica impressionista em Raul Pompeia busca registrar as impressões subjetivas do narrador ao invés de oferecer uma fotografia exata da realidade. Diferente do realismo/naturalismo que se concentra em descrever fatos de maneira objetiva e impessoal, o impressionismo valoriza as emoções, memórias e a percepção interna dos personagens. Isso cria uma narrativa mais rica em sensações e atmosfera, deixando a ação em segundo plano frente às impressões provocadas pelas experiências vividas.

03: Espera-se que o aluno responda que a escolha de Sérgio como narrador permite que a história seja contada sob uma perspectiva altamente subjetiva, permitindo ao leitor acessar diretamente suas memórias e impressões. Essa abordagem acentua o caráter psicológico da narrativa e destaca a subjetividade das experiências humanas. Como narrador onisciente, Sérgio também revela intimidades dos personagens, proporcionando uma visão mais profunda de suas emoções e dilemas, o que contrasta com uma narração mais objetiva típica do realismo.

04: Espera-se que o aluno responda que a descrição de Ângela possui características naturalistas, evidenciando traços físicos e temperamentais marcantes, o que reflete uma análise objetiva e científica da personagem. No entanto, essa descrição, ao ser integrada ao estilo impressionista de Raul Pompeia, não se limita a relatar aspectos físicos, mas visa provocar uma impressão no leitor sobre a complexidade emocional da personagem. Assim, a obra transita entre o naturalismo e o impressionismo, utilizando a descrição física como um ponto de partida para um retrato psicológico mais profundo.

05: Espera-se que o aluno responda que a utilização da memória e a estrutura não linear da narrativa em "O Ateneu" criam uma sensação de fluidez no tempo, onde os eventos não são apresentados de forma cronológica, mas sim conforme as recordações do narrador. Isso enriquece a obra ao permitir que o leitor experimente as emoções e reflexões de Sérgio à medida que ele revê suas experiências. Essa abordagem também requer uma maior participação ativa do leitor, que precisa conectar fragmentos de memória para entender a totalidade da narrativa e suas nuances emocionais, levando a uma interpretação mais rica e pessoal da obra.