Aluísio Tancredo Gonçalves Azevedo nasceu em São Luís, capital do Maranhão, em 1857. O berço do autor já foi um escândalo na então provinciana capital maranhense: a mãe abandonara o marido e passara a viver com o vice-cônsul português na cidade, um jovem viúvo. Dessa "união ilegítima" nasceram primeiro Artur Azevedo - que iria tornar-se escritor de peças de teatro - e depois Aluísio Tancredo, excelente caricaturista, desenhista e, mais tarde, o inaugurador de nosso Naturalismo.
A habilidade de caricaturista deu origem a um método original de trabalho: segundo depoimento de um amigo da época, o escritor primeiro desenhava suas personagens, pintava-as e recortava-as sobre papelão para depois escrever as cenas de seus romances. Nada mais condizente com um escritor naturalista!
Morou um tempo no Rio de Janeiro e regressou a São Luís quando o pai morreu. Antes de estrear no Naturalismo, escreveu um romance romântico de descutível qualidade: Uma lágrima de mulher. Ajudou então a lançar o jornal O pensador, que fazia ferrenha oposição ao clero. Aluísio, não bastasse ter nascido de pais descasados, agora tornava-se o "satanás da cidade". Isso seria pouco diante do escândalo provocado com o lançamento de O mulato, em que muitas pessoas da sociedade maranhense se viram refletidas.
Livro lançado, escândalo armado. O redator do jornal A civilização aconselhou ao romancista: "À lavoura, meu estúpido! "À lavoura! Precisamos de braços e não de prosas em romances!"
Nada estúpido, sentindo que sua situação na cidade tendia a se complicar, com o sucesso obtido pelo livro na capital federal, o escritor colocou fama e dinheiro na bagagem e voltou ao Rio.
Decidido a ganhar a vida como romancista, tinha de publicar sempre. Daí o desnível qualitativo de sua obra: romances dentro da mais pura convenção romântica intercalavam-se com obras naturalistas.
A estabilidade financeira que o escritor procurava não veio através da literatura. Em 1895 conseguiria ingressar na carreira diplomática: espanha, Japão e Argentina. Depois de outras andanças sul-americanas e europeias, voltou a fixar-se em Buenos Aires, junto com a companheira, Pastora, e os dois filhos do primeiro matrimônio dela. Desde o ingresso na carreira diplomática, até morrer, em janeiro de 1913, Aluísio Azevedo nunca mais escreveu ficção.
Romances românticos: Uma lágrima de mulher (1879); Memórias de um condenado (ou A condessa Véper) (1882); Mistério da Tijuca (ou Girândola de amores) (1882); Filomena Borges (1884); A mortalha de Alzira (1894).
Romances naturalistas: O mulato (1881); Casa de pensão (1884); O homem (1887); O cortiço (1890); O coruja (1890).
Escreveu ainda contos e crônicas.
Aluísio Azevedo pretendeu interpretar a realidade de uma camada social marginalizada, em franco processo de degradação, quer pela força da pressão social, quer pelo determinismo - teoria que o autor considera válida.
A cronologia da produção literária do escritor chama a atenção pelo fato de as obras naturalistas e as românticas serem, muitas vezes, simultâneas. O desnível de qualidade de seus romances certamente decorria da necessidade de escrever seguidamente, fazendo concessões ao público.
Segundo a crítica, o defeito de sua obra naturalista reside no fato de as personagens se reduzirem a meros tipos, esquemas sem vida interior. Sua grande virtude está, segundo a mesma crítica, no poder de retrar agrupamentos humanos.
FONTE:
Foto: https://pt.wikipedia.org/wiki/Alu%C3%ADsio_Azevedo
FARACO, Carlos Emílio; MOURA, Francisco Marto. Língua e Literatura.16 ed. São Paulo: Ática, 1996.
ATIVIDADES
01: A vida pessoal de Aluísio Azevedo foi marcada por diversos conflitos e escândalos. De que forma esses acontecimentos pessoais influenciaram sua obra literária? Comente:
02: Compare e contraste as obras naturalistas de Aluísio Azevedo com seus romances românticos. Quais são as principais diferenças entre esses dois estilos?
03: A carreira diplomática de Aluísio Azevedo interrompeu sua produção literária. Quais foram as possíveis razões para essa interrupção? Discuta o impacto dessa decisão na literatura brasileira.
GABARITO
01: Espera-se que o aluno responda que a vida turbulenta de Aluísio Azevedo, marcada por uma origem familiar polêmica e por confrontos com a sociedade maranhense, exerceu uma profunda influência em sua produção literária. O autor frequentemente utilizava suas próprias experiências e as de seus familiares como matéria-prima para seus romances, conferindo a eles um caráter autobiográfico e uma crueza realista. Em obras como "O Mulato", por exemplo, a temática do preconceito racial e da exclusão social, presente na própria vida do autor, é explorada de forma contundente. Além disso, a oposição à Igreja e à moral tradicional, que marcou sua trajetória, encontra eco em seus romances naturalistas, nos quais a hipocrisia e a vulgaridade da sociedade são denunciadas sem pudores.
02: Espera-se que o aluno responda que a obra de Aluísio Azevedo apresenta uma grande oscilação entre o Romantismo e o Naturalismo. Enquanto os romances românticos se caracterizam pelo idealismo, pela valorização dos sentimentos e pela busca por um herói idealizado, os romances naturalistas apresentam uma visão mais realista e objetiva da realidade, com personagens complexos e ambíguos, e uma linguagem mais crua e direta. No Romantismo, o autor buscava a beleza e a perfeição, enquanto no Naturalismo, ele se volta para a realidade cotidiana, com suas mazelas e contradições.
03: Espera-se que o aluno respa que a decisão de Aluísio Azevedo de ingressar na carreira diplomática pode ser explicada por diversos fatores, como a busca por estabilidade financeira e a necessidade de se afastar dos conflitos e escândalos que marcavam sua vida no Brasil. Essa interrupção da produção literária representou uma grande perda para a literatura brasileira, uma vez que Azevedo era um dos principais nomes do Naturalismo no país. Sua ausência deixou um vácuo que foi difícil de ser preenchido por outros escritores.