Leia um trecho do poema I-Juca Pirama de Gonçalves Dias. (UnB-DF)
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi:
Sou filho das selvas,
Nas selvas cresci;
Guerreiros, descendo
Da tribo tupi.
Da tribo pujante,
Que agora anda errante
Por fado inconstante,
Guerreiros, nasci;
Sou bravo, sou forte,
Sou filho do Norte;
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi.
[...]
Ao velho coitado
De penas ralado,
Já cego e quebrado,
Que resta? - Morrer.
Enquanto descreve
O giro tão breve
Da vida que teve,
Deixai-me viver!
Aos golpes do inimigo,
Meu último amigo,
Sem lar, sem abrigo
Caiu junto a mi!
Com plácido rosto,
Sereno e composto,
O acerbo desgosto
Comigo sofri.
Meu pai a meu lado
Já cego e quebrado,
De penas ralado,
Firmava-se em mi:
Nós ambos, mesquinhos,
Por ínvios caminhos,
Cobertos d’espinhos
Chegamos aqui!
[...]
Eu era o seu guia
Na noite sombria,
A só alegria
Que Deus lhe deixou:
Em mim se apoiava,
Em mim se firmava,
Em mim descansava,
Que filho lhe sou.
Não vil, não ignavo,
Mas forte, mas bravo,
Serei vosso escravo:
Aqui virei ter.
Guerreiros, não coro
Do pranto que choro:
Se a vida deploro,
Também sei morrer.
A partir do trecho apresentado, extraído do clássico poema do indianismo brasileiro I-Juca Pirama, julgue os itens a seguir como VERDADEIRO ou FALSO.
A. No contexto da literatura brasileira do século XIX, era incomum o recurso a protagonistas ameríndios em poemas épicos e romances. Especialmente os autores que se filiavam ao romantismo tenderam a dar destaque nos seus textos a heróis de proveniência europeia, como forma de rejeitar o projeto de uma identidade brasileira, bem como de restaurar os laços com a cultura europeia, que haviam sido cortados desde a independência.
B. O refrão do poema - “Meu canto de morte, / Guerreiros, ouvi” - remete ao passado do personagem épico I-Juca Pirama, como indica o emprego da forma verbal “ouvi”, flexionada no pretérito do indicativo.
C. Ao utilizar como recurso de composição a narrativa em primeira pessoa do singular, o autor potencializa o apelo romântico do texto, fazendo que o drama do personagem Tupi seja sublinhado pela perspectiva íntima, a partir da qual os fatos são apresentados.
D. Para conferir dramaticidade ao momento de tensão em que o índio Tupi se apresenta à tribo que o aprisionou, o poeta utiliza esquema métrico e rítmico ágil, destacando-se a redondilha maior e as rimas cruzadas.
E. O índio, nesse poema de Gonçalves Dias e nas demais obras do indianismo romântico brasileiro, é representado segundo técnica literária realista, por meio da qual se pretende revelar o índio como legítimo dono das terras e da identidade cultural do país.
F. Verifica-se, nas últimas estrofes apresentadas, que o grande temor do personagem narrador é a morte, apesar de a desdita que a vida reservou a ele e a seu pai ser apresentada em forma de lamento.
G. O movimento romântico brasileiro, do qual o poema I-Juca Pirama é produção exemplar, procurou estabelecer as bases literárias da identidade cultural brasileira, objetivando a superação do cosmopolitismo expresso pela estética neoclássica, característica do Arcadismo.
H. Autores do modernismo brasileiro retomaram o tema do índio moralmente forte como símbolo da nação, como se pode verificar na obra Macunaíma, de Mário de Andrade.
GABARITO
A. FALSO
B. FALSO
C. VERDADEIRO
D. FALSO
E. FALSO
F. FALSO
G. VERDADEIRO
H. FALSO
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