Não solicitamos autorização de terceiros para a publicação de conteúdo neste blog. Caso alguém discorde de alguma publicação, entre em contato pelo e-mail elisandro.felix@gmail.com e solicite, com justificativa, a exclusão do material.
SEJAM BEM-VINDOS AO PORTAL DA TAREFA LEGAL
NÃO RECLAMEM DOS ANÚNCIOS, SÃO ELES QUE AJUDAM MANTER O FUNCIONAMENTO DESSA PÁGINA.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

LEITURA E INTERPRETAÇÃO TEXTUAL 6º ANO - O FRIO QUE FAZIA EM RIGA

Quais teriam sido os momentos mais marcantes da infância de alguém que viveu em outro espaço, em outra época e com outros costumes? No texto a seguir, um capítulo do livro Transplante de menina: da Rua dos navios à Rua Jaguaribe, a escritora Tatiana Belinky conta como passava com seus dois irmãos o rigoroso inverno em Riga (capital da Letônia).



O frio que fazia em Riga, no inverno, não era brincadeira. A temperatura chegava a cair abaixo dos trinta graus centígrados, e nesses dias nós, crianças, ficávamos presas em casa, no apartamento, como passarinhos na gaiola. A gente só podia ficar espiando o lado de fora pelas vidraças enfeitadas por caprichosos desenhos de cristais de geada, que a gente esfregava para formar uma claraboia transparente. As vidraças eram duplas, uma do lado de fora, outra dentro, com um espaço entre as duas, e ainda uma beirada que dava para a rua, um "aparador" que a neve acolchoava de branco fofo e festivo. Nessa espécie de prateleira, mamãe colocava maças para assar no frio. Sim, porque o frio ali não era sequer como o de uma geladeira - coisa que, aliás, nós nem tínhamos em casa: era mais para freezer, e durante a noite gélida as maçãs encolhiam, ficavam murchas e escurinhas, "assadas" naquela friagem. Aí, mamãe tirava as maçãs de lá e as colocava sobre os radiadores do aquecimento central, onde elas se descongelavam e se transformavam em deliciosa sobremesa.


Quando o frio não era era tanto, só uns suportáveis oito ou dez graus negativos, a gente podia sair para passear durante uma horinha. Era gostoso sair para a neve, acompanhados pela nossa Fräulein, a governanta alemã, respirar o ar geladinho, passear no parque puxando o nosso trenozinho, descer com ele as rampas suaves do jardim publico. Ou patinar na lagoa do parque, dura de gelo, deslizando na sola das próprias botas. Só que o nosso prazer era um pouco prejudicado pelo excesso de agasalhos que éramos forçados a usar. Naquele tempo não tínhamos - e nem havia - agasalhos leves e quentes, de tecidos sintéticos, como agora. O que nos faziam vestir eram camadas e camadas de roupas grossas de lã, malhas sobre malhas, tweeds pesados, botas forradas de feltro, casacos impermeáveis acolchoados de algodão, gorros de pele cobrindo as orelhas, xales e cachecóis enrolados no pescoço, luvas "de dedão" que tolhiam o uso dos quatro dedos restantes, e sei lá o que mais. Daí, só com os olhos e a ponta do nariz livres, a gente ficava mais durinho de movimento do que boneca de pano recheada de macela, feito a Emília, de Lobato, antes de virar quase-gente. Mesmo assim dava para brincar de batalha de bolas de neve ou de construir um homem de neve com olhos de carvão, boca de graveto e nariz de cenoura. Mas de vez em quando acontecia que a ponta do nosso próprio nariz começava a ficar congelada, e daí a gente pegava um punhado de neve e esfregava com força o nariz branco, duro e amortecido, até arder e ele ficar vermelhinho e sensível de novo - uma dorzinha até bem-vinda. também era gostoso quebrar as estalactites de gelo que se formavam em calhas e beiradas, para chupá-las feito pirulito, para horror da Fräulein. Certa vez ela me flagrou fazendo isto, e me admoestou solenemente, em alemão: "Como é que você, uma menina deste tamanho, que logo vai fazer seis anos, pode se comportar assim!" E eu fiquei deveras envergonhada desse pecado, na minha avançada idade de cinco anos e meio...


Já em casa, no apartamento aquecido pelos radiadores onde circulava a água muito quente da caldeira central, fazia às vezes até calor demais, e nós, crianças, podíamos brincar à vontade.

E como brincávamos! As horas do dia não eram suficientes para tanta brincadeira, e o comando de ir para a cama era invariavelmente saudado pelos mais veementes protestos, só mitigados pela perspectiva das histórias que papai nos contava sempre na hora de dormir. Ele era um grande contador de histórias e tinha um repertório que parecia interminável. Eram histórias fantásticas e histórias verdadeiras, tiradas da literatura e da imaginação, da História do Mundo e da Mitologia, da Bíblia, do folclore e da poesia. esta última, então, papai sabia "dizer" como um verdadeiro artista, a gente ficava encantada e emocionada, e queria ouvir mais e sempre mais. Tudo isso me dava uma vontade crescente de ler, os livros me fascinavam desde muito cedo. Não foi à toa que aprendi a ler - brincando com bloquinhos de letras, com pouco mais de quatro anos de idade - e nunca mais parei.

Tatiana Belinky. Transplante de menina: da rua dos Navios à Rua Jaguaribe. São Paulo: Moderna, 1995. In: In: BELTRÃO, Eliana Santos; GORDILHO, Tereza. Diálogo língua portuguesa. São Paulo: FTD, 2009.

VOCABULÁRIO:
claraboia: abertura envidraçada de um telhado por onde entra a claridade.
radiadores: aparelhos destinados a aquecer ambientes.
Fräulein: palavra alemã que significa "senhorita, governanta alemã de crianças e mocinhas".
tweed: palavra inglesa que significa "tecido de lã".
macela: planta de propriedades medicinais usada em chás e para encher almofadas e travesseiros.
estalactites: formações de gelo semelhantes às que pendem do teto das cavernas ou grutas, produzidas pela infiltração das águas.
admoestou: advertiu, repreendeu.
caldeira: recipiente grande para aquecer água, para produzir vapor.


DIALOGANDO COM O TEXTO

1. No texto, a escritora Tatiana Belinky conta sobre o que viu em Riga, num período específico de inverno.

a) O que mudava, nessa época do ano, na vida das crianças da região em que ela vivia?

b) A que é comparada a vida das crianças nesse período? Por quê?

c) Que aspecto(s) acerca da pequena cidade de Riga você achou mais interessante saber?

2. Os fatos relatados no texto revelam experiências da autora na infância e nos dão pistas da época e do clima da região em que ela viveu.

a) Que aspecto indica que os fatos relatados aconteceram em uma época diferente da atual?

b) Que informação marca a diferença entre o clima dessa região e o do Brasil?

3. A governanta é tratada de Fräulein pelas crianças, palavra que significa “senhorita” em alemão.

a) O que essa forma de tratamento sugere sobre a relação entre a governanta e as crianças?

b) Escreva o trecho que retrata o rigor da governanta com a educação das crianças.

c) O que a forma de tratamento usada pelas crianças e o episódio relatado no item b podem revelar sobre a educação familiar na época em que a autora era criança?

4. Segundo a autora, mesmo “presas” em casa, as crianças brincavam muito e protestavam na hora de dormir. Mas os protestos das crianças eram “mitigados” diante de algo.

a) Com base no contexto, escreva o(s) termo(s) abaixo que pode(m) substituir a palavra mitigados no texto.

amenizados – atenuados – ajudados – aliviados – abrandados – amansados

b) O que mitigava os protestos naquela hora? Por quê?

c) O que as crianças tinham mais prazer de ouvir?

5. De que maneira o hábito de o pai contar histórias influenciou a vida da autora?

6. No primeiro parágrafo, as palavras aparador e assadas vêm acompanhadas de aspas para indicar que estão empregadas com um sentido diferente do usual ou literal.

Leia o significado dessas palavras no dicionário.

aparador: móvel de sala de jantar, relativamente longo, da altura da mesa de refeições, e cujo tampo serve para receber os pratos ou travessas com comida durante o almoço ou jantar; bufê, bufete.
assado [part. de assar]: submeter à ação do fogo, ou ao calor do forno, até ficar cozido ou tostado.

Releia o trecho e explique o significado dessas palavras no contexto.

7. As palavras freezer, Fräulein e tweeds estão grafadas em itálico. Levante hipóteses que possam explicar por que esse recurso foi empregado.

8. O clima onde você mora se altera e depende muito de como a luz do Sol chega à superfície da Terra. O clima em Riga, durante o inverno, atingia uma temperatura de 30 graus abaixo de zero. Observe a localização da cidade de Riga (Letônia) no mapa.

Fonte: Sírio Cançado

No globo existe uma linha chamada equador. Ela divide a Terra em duas partes iguais chamadas hemisférios. O clima da sua cidade depende, entre outras coisas, da sua posição no globo terrestre. Por exemplo, quanto mais próxima do equador, mais quente é o clima. Por isso, os polos, pontos mais distantes da linha do equador, estão sempre gelados.

Mas por que tanta diferença no clima?

Sabemos que é a luz do Sol que esquenta a Terra. Pelo fato do eixo de rotação da terra ser inclinado em relação a sua órbita, se um hemisfério recebe mais luz, o outro hemisfério tem que receber menos. O início do inverno num hemisfério é o início do verão no outro.

Veja, na figura abaixo, como muda a forma de a luz do Sol iluminar a Terra.

Fonte: Ricardo Dantas

Com base na leitura dos textos acima e observação das figuras, assinale a alternativa correta.

(A) O inverno na região de Riga é mais rigoroso do que o inverno na maior parte do Brasil, pois quanto mais nos afastamos da linha do equador, mais baixa a temperatura fica.
(B) A parte de cima da Terra, o Hemisfério Norte, recebe menos luz que a parte de baixo, o Hemisfério Sul. Como a cidade de Riga localiza-se no hemisfério Norte, o verão é mais quente.
(C) A baixa temperatura no inverno na região de Riga pode ser explicada, entre outros fatores, pela grande quantidade de raios de sol nessa região.

9. No final do texto a narradora diz como ela aprendeu a ler e o que a fez ter esse fascínio pela leitura. Releia o trecho:

"Tudo isso me dava uma vontade crescente de ler, os livros me fascinavam desde muito cedo. Não foi à toa que aprendi a ler - brincando com bloquinhos de letras, com pouco mais de quatro anos de idade - e nunca mais parei."

Na sua opinião, de que maneira a leitura desse texto pode influenciar a vida do jovem?


FONTE:  BELINKY, Tatiana. O frio que fazia em Riga. In: BELTRÃO, Eliana Santos; GORDILHO, Tereza. Diálogo língua portuguesa. São Paulo: FTD, 2009. (Adaptado)

E AÍ, GOSTOU DO NOSSO MATERIAL? COMENTA AQUI ABAIXO 👇!



GABARITO
1)
a) As crianças só podiam brincar dentro de casa e, ao sair, tinham de usar pesados agasalhos.
b) À vida dos passarinhos presos em gaiolas. Porque as crianças perdiam a liberdade, ficavam presas em casa ou em apartamentos.
c) Resposta pessoal.
2. 
a) A descrição do vestuário que usavam: roupas de lã grossa, tweeds pesados, botas forradas de feltro, casacos acolchoados de algodão.
b) A temperatura de 30 graus abaixo de zero no inverno.
3. 
a) Sugere que entre elas existia uma relação formal, de respeito.
b) O trecho em que a governanta diz solenemente: "Como é que você, uma menina deste tamanho, que logo vai fazer seis anos, pode se comportar assim!"
c) Uma educação rígida, em que a relação entre crianças e adultos era de formalidade.
4. 
a) amenizados, atenuados, aliviados, abrandados, amansados.
b) O hábito de o pai contar histórias para os filhos na hora de dormir. porque ele era um grande contador de histórias e com um vasto repertório.
c) Tinham mais prazer de ouvir o pai "dizer" poemas.
5. Influenciou na aprendizagem de leitura aos 4 anos e aumentou sua vontade de ler.
6. No contexto, a palavra aparador refere-se à beirada da janela; a palavra assadas, às maçãs submetidas à ação do frio.
7. Para diferenciá-las, pois são palavras que não pertencem ao nosso idioma.
8. A
9. Resposta pessoal.

6 comentários:

Unknown disse...

Muito bom o apoio que recebo...

Unknown disse...

Qual é a resposta?

Unknown disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Unknown disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Unknown disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Unknown disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.