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sábado, 3 de setembro de 2022

SIMBOLISMO NO BRASIL (1893-1902)


O Simbolismo brasileiro inicia-se em 1893, com a publicação de dois livros: Missal (coletânea de poemas em prosa) e Broquéis (poemas), de Cruz e Sousa.

A fusão de poesia e prosa é uma característica do Modernismo antecipada pelos simbolistas. O pequeno grupo de simbolistas agregou-se em torno de Cruz e Sousa, nosso mais importante autor desse estilo. A morte do poeta, em 1898, provocou a dissolução do grupo.

Se na literatura europeia o Simbolismo teve grande aceitação, o mesmo não ocorreu no Brasil, pois esse estilo mal se fez notar pelo público, acostumado a ler poesia parnasiana.

Hoje a poesia simbolista é considerada fundamental para o surgimento do Modernismo no Brasil.

Autores e obras:

Cruz e Sousa (1861-1898)

João da Cruz e Sousa nasceu em Florianópolis (SC). Filho de escravos alforriados, recebeu uma educação escolar primorosa, pois tornou-se protegido dos antigos senhores de seus pais. Fugiu com um circo que passava pela cidade e, depois de uma rápida permanência no Rio Grande do Sul, foi para o Rio de Janeiro, onde se fixou até a morte. Começou sua carreira como jornalista. Casou-se com Gavita, que enlouqueceria em 1896, sendo cuidada em casa pelo próprio poeta. Vários de seus poemas têm a loucura como tema. Morreu tuberculoso, em 1898.

Obra

Poesia: Broquéis (1893); Faróis (1900); Últimos sonetos (1905).
Prosa poética: Tropos e fanfarras (1885) - em colaboração com Vírgilio Várzea; Missal (1893); Evocações (1898).

"Violões que choram" é um dos mais conhecidos poemas de Cruz e Sousa. Desse poema, transcrevemos o trecho em que, empregando inúmeras figuras de estilo, o poeta procura descrever o som dos violões.

Ah! plangentes violões dormentes, mornos,
soluços ao luar, choros ao vento...
Tristes perfis, os mais vagos contornos,
bocas murmurejantes de lamento.

Noites de além, remotas, que eu recordo,
noites de solidão, noites remotas
que nos azuis das Fantasias bordo,
vou constelando de visões ignotas.

Vozes veladas, veludosas vozes,
volúpias dos violões, vozes veladas,
vagam nos velhos vórtices velozes
dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.

CRUZ e SOUSA. Poesias Completas de Cruz e Sousa. Rio de Janeiro: Ediouro, 1995, p.50-53. Fragmento.

Vocabulário:
plangente: que chora, triste, lastimoso
dormente: entorpecido
ignoto: desconhecido
velado: coberto com véu; disfarçado
volúpia: grande prazer
vórtice: redemoinho
vulcanizado: ardente, inflamado

Alphonsus de Guimarães (1870-1921)



















Esse era o pseudônimo poético de Afonso Henriques da Costa Guimarães, nascido em Ouro Preto (MG). Morou em São Paulo, onde iniciou o curso de Direito, que concluiria em Ouro Preto. A morte da noiva, Constança, parece ter marcado sua vida. Em 1906 foi nomeado juiz de Direito em Mariana (MG). Lá se casou, teve quinze filhos e permaneceu até a morte.

Obra

Poesia: Setenário das dores de Nossa Senhora; Câmara ardente; Dona Mística (todos de 1899); Kyriale (1902).
Prosa: Mendigos (1920).

Ismália
Alphonsus de Guimaraens

Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu.
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...

GUIMARAENS, Alphonsus de. Poesia. Rio de Janeiro, Agir, 1976.

Vocabulário:
desvario: loucura
ruflar: bater de asas