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sábado, 28 de janeiro de 2012

POEMA - CATAR FEIJÃO DE JOÃO CABRAL DE MELO NETO


Catar feijão

Catar feijão se limita com escrever:
jogam-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na da folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo:
pois para catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.

Ora, nesse catar feijão, entra um risco:
o de entre os grãos pesados entre
um grão qualquer, pedra ou indigesto,
um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a com o risco.


Autoria: João Cabral de Melo Neto

sábado, 21 de janeiro de 2012

POESIA - A SECA E O INVERNO - PATATIVA DO ASSARÉ


A seca e o inverno

Na seca inclemente no nosso Nordeste
O sol é mais quente e o céu, mais azul
E o povo se achando sem chão e sem veste
Viaja à procura das terras do Sul

Porém quando chove tudo é riso e festa
O campo e a floresta prometem fartura
Escutam-se as notas alegres e graves
Dos cantos das aves louvando a natura

Alegre esvoaça e gargalha o jacu
Apita a nambu e geme a juriti
E a brisa farfalha por entre os verdores
Beijando os primores do meu Cariri

De noite notamos as graças eternas
Nas lindas lanternas de mil vaga-lumes
Na copa da mata os ramos embalam
E as flores exalam suaves perfumes

Se o dia desponta vem nova alegria
A gente aprecia o mais lindo compasso
Além do balido das lindas ovelhas
Enxames de abelhas zumbindo no espaço

E o forte caboclo da sua palhoça
No rumo da roça de marcha apressada
Vai cheio de vida sorrindo e contente
Lançar a semente na terra molhada

Das mãos deste bravo caboclo roceiro
Fiel prazenteiro modesto e feliz
E que o outro branco sai para o processo
Fazer o progresso do nosso país.


Patativa do Assaré. Revista Nova Escola. São Paulo: Abril, abril de 2001.



sábado, 14 de janeiro de 2012

POEMA - VER DE VER DE MARIA DINORAH


Ver de ver

Naquele espaço
de verde
e ver-se,
pombos e patos
compartilhavam
de lago e céu.

Pombos pousavam
sobre telhados,
patos patavam
água e escarcéu.

Homens chegaram
com sua indústria
de fome e fogo.

Secaram lagos,
mataram verdes,
jogaram dados
de sorte e morte.

Quando suas armas
cumprirem sina
de destruição,
verdes de ver-se
pombos e patos,
ainda serão?!


Maria Dinorah. Ver de ver. São Paulo: FTD, 1992.



sábado, 7 de janeiro de 2012

POEMA - CLASSIFICADOS POÉTICOS DE ROSEANA MURRAY

Classificados poéticos


Menino que mora num planeta
azul feito a cauda de um cometa
quer se corresponder com alguém
de outra galáxia.
Neste planeta onde o menino mora
as coisas não vão tão bem assim:
o azul está ficando desbotado
e os homens brincam de guerra.
É só apertar um botão
que o planeta Terra vai pelos ares...
Então o menino procura com urgência
alguém de outra galáxia
para trocarem selos, figurinhas
e esperanças.

Habitante de outra galáxia
aceita corresponder-se com o menino
do planeta azul.
O mundo deste habitante é todo
feito de vento e cheira jasmim.
Não há fome nem há guerra,
e nas tardes perfumadas
as pessoas passeiam de mãos dadas
e costumam rir à toa. [...]


Roseana Murray. Classificados poéticos. belo Horizonte, Miguilin, 1990.